Espicaçando o Marketing

Em tempos bicudos, de transformações e mudanças, há que espicaçar. Quem pode espicaçar? Todos e cada um que tem um mínimo de discernimento do presente e sabem que à semelhança do que aconteceu com o Titanic, não tem sentido continuar tocando na orquestra.

quinta-feira, novembro 29, 2007

O Ônibus


Quando era bem moleque fui morar nos Estados Unidos. Diariamente eu tinha que me apressar até a praça vizinha para pegar o ônibus escolar pontualmente às 7:10 da manhã. Era dirigido por aquela senhora um pouco acima do peso. É provável que você já a tenha visto nos filmes da sessão da tarde da Globo. Ela me levava, juntamente com meus colegas até a porta da Patton Junior High School. E à tardezinha, quando terminava minha última aula, lá estava ela com a manivela da porta estendida, pronta para fazermos o trajeto de retorno. Uma rotina diária e incansável dentro daquele ônibus amarelo.


Hoje, eu não tão jovem e meus cabelos a se encanecer, tomo minha condução para o aprendizado diário. É um aprendizado diferente, mas ainda mais necessário. É a atualização, o pulso, a eletricidade do mercado com suas decisões e novidades. Tem muito a ver com a Inovação – meu prato predileto e principal.

Nestes tempos, o meu ritmo é mais cadente. Nada daquela pontualidade tirana. Hoje, esse ônibus que me leva a lugares de novos aprendizados, completa doze anos. A condução não é tangível - física. Só que os lugares são reais, mas bem virtuais. O ônibus é digital e chama-se bluebus.

Conheci o bluebus no século passado, assim como uma boa galera da área de comunicação. Para mim e para muita gente, bluebus passou a ser link obrigatório. Em alguns casos, abro o ônibus antes do uol.

Os integrantes de bluebus - fui conhecendo em eventos e ligeiros papos por email – são jornalistas, pensadores, práticos e especialistas.

É espaço obrigatório para quem trabalha com comunicação e marketing. Ou seja todo mundo! E tem a ver com a propaganda, também. Mas bluebus vai a todos os lugares: pessoas e empresas; anunciantes e agencias; produtores e veículos; tendências e monitoramentos; novidades e furos; expressões e interatividade. Mas, acima de tudo é Conhecimento. A tal da knowledge que nos lembra ser o marco desta Era em que vivemos.

Como balinhas multicoloridas no pote, as notícias vêm de todos os cantos e de todas as fontes. Notícias curtas e opiniões concisas. Nessa compilação temos mais que um bom retrato da última década. É a própria formação e simbiose desse meio. E o meio – bem entendido, é a mídia e o no-media.

Conecta-me a uma das frases basilares da economia digital: o mercado não é um lugar, são conversas. E nesse aniversário de doze anos, temos mais que a evidência – a prática diária de diálogos, de interatividade e da voz livre. Comemoremos.

A responsabilidade que Julio Hungria e Elisa Araújo têm é tremenda. Primeiro porque manter o ônibus em movimento já é um grande desafio. Como tudo nesse mundo louco, a demanda por superação do passado é um sonho misturado com pesadelo. Nem sempre acordamos bem. E segundo, como superar algo que já nasceu bom? A fórmula que eles têm encontrado é simples: inteligência e talento. A manutenção desse par é que não é tão fácil. Mas a boa mão do Julio e a sagacidade da Elisa provam competência. Mas como sempre, será uma luta diária.

No mais, é só alegria. Parabéns a vocês dois e à sua fabulosa equipe.

Na rotina do dia a dia, hoje mais uma vez vou subir com um clique. E me deliciar dentro desse ônibus azul.

quarta-feira, novembro 07, 2007

Vestindo a carapuça




Logo que li, percebi que era para mim. Um anúncio em página dupla, me chamando de 'profeta' e eles fazendo o que? Profetizando a minha morte! Justo esta que é certa como o meu nascimento, ou melhor, que é certa desde que nasci.

A cronologia é que era estranha. Eu - diziam eles (referindo-se a mim e a meu grupo), morreria antes da propaganda!

O texto da ALMAP BBDO, publicado na VEJA (páginas 36 e 37 de 7 de novembro) só não é mais claro por não terem colocado os nossos nomes lá no topo. Preferiram generalizar:




Os profetas dizem que a propaganda morreu.
Algo nos diz que os profetas vão morrer antes da propaganda.

Antes de mais nada uma breve justificativa. Já tratei do assunto várias vezes. Pelo menos em 2003, e ainda em 2003, 2004, mais duas vezes em 2006 e aqui, e em 2007. E é possível que - e se me der na telha (e viver até lá), poste novamente no ano que vem. E depois devo parar - pois chega. Estou de saco cheio desses caras. E lhe garanto que não estou sozinho.

Por que?

Não sou eu, nem o meu grupo, nem os verdadeiros profetas (estudiosos e acadêmicos) que o dizem. São os próprios publicitários que de forma cabal e definitiva já puseram a pá de cal em suas atividades!

Peguemos o texto do anúncio cartaz. A lógica do argumento inicia-se com um primor de premissa: toda previsão como regra é pessimista ao prever guerras e catástrofes ...

Primeiro, que antecipar o perigo é importante para a sobrevivência desde que o mundo é mundo! E segundo, a calamidade só acontece para aqueles que não atendem ao apelo de alerta, quer para se refugiar ou até mesmo se evadir.

Em seguida, atribui-se aos ditos profetas o veredito de que: o surgimento das novas mídias que decretaram a morte da velha mídia. Duas falácias em uma. Pegue só uma, mas pague duas! O que estão a dizer é que as novas disciplinas de comunicação (sic) são o fato gerador! O bebêzinho fez papai e mamãe fecundar! Essa é a primeira falácia (estupenda!). Agora pegue a segunda: propaganda é igual a velha mídia. Uma coisa é uma coisa, e a outra coisa, é outra coisa. No passado as duas eram bem próximas e eternas namoradas enquanto o romance durasse. Só que a segunda evoluiu, inovou, se re-inventou, alargou-se, ampliou-se e mudou. E a primeira ...

As omissões são feitas com muuuuuita perspicácia. Coisa de publicitário - dos véios, antigos, apesar de idade nova e de gel nos cabelos.

O ovo de Colombo

O coração do argumento está nesta pérola:




A Almap acredita que a propaganda, tenha ela o formato que tiver, sempre existirá. E dependerá de uma grande idéia.


Êpa! Olha só onde foram se inspirar! Em Soren Kierkegaard, o famoso filósofo dinarmaquês do Século XIX, pai do existencialismo. Uma de suas sacadas de gênio é conhecida como o salto para a fé. Ou seja, a subjetividade profunda serve para dar significado às suas decisões. Por exemplo, quando nada mais tem solução, dê um salto de fé - não importa qual seja o objeto de sua fé. Pule no escuro! Creia no seu ato, a despeito de não se ter ou mesmo, contra a evidência empírica. E foi isso que eles fizeram! Eles acreditam ...


O defunto está morto e mal cheiroso, gélido e ascoroso. Mas continuamos a tratá-lo como se num sonho.

E a segunda sentença da pérola? Aquela que diz: E dependerá de uma grande idéia. Além de acreditar há uma salvaguarda: a grande idéia! Não lhe soa bem novo? Algo que nunca lhe disseram? Pelo que sei, e pelo que me foi ensinado por muitas pessoas e pela própria vida, nas mais diversas situações, a grande idéia é irmã siamesa da grande história.

Participantes do mercado de trabalho, eu vos pergunto: sobreviverás se não estiveres construindo uma grande história? Que lugar vos reservarão se fores (como indivíduo ou empreendimento) um mero transeunte?

E ainda não acabou. O dito reclame textual segue:



Afinal, o trabalho da Almap é reconhecido não apenas ... como também pelas mídias interativas, pela comunicação integrada, pelas ações promocionais, etc., etc., etc.

Êpa, êpa, êpa!!! Três vezes êpa! A propaganda como propaganda está vivinha da Silva! Mas, por precaução, e porque o seguro morreu de velho, e em todos os 'causos': deixe-me investir no etc., no etc., no etc., e nas ações promocionais, na comunicação integrada, nas mídias interativas!

Depois dessa, só posso encerrar com: Rest in peace!